quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Love, loss, and what we ate, Padma Lakshmi

It's funny to me that most of the cooking in the world is done by women, and yet when you look at modern Western cuisine, it's largely based on what a few dead Frenchmen have opined to be the correct way of doing things. (...) Cooking was something women did to nourish and nurture their families, whereas for men it was something they did professionally to gain money and status.
Love, loss, and what we ate foi uma leitura feita para o Ler além, na categoria biografia de mulher não branca. Descobri a existência do livro por acaso, em um e-mail de promoções de e-books, e achei que seria uma boa escolha para o desafio, visto que não tinha muitas opções em mente. Simpatizava o suficiente com a Padma como apresentadora do Top Chef, meu reality de culinária favorito, e o pouco que sabia de sua vida pessoal envolvia seu casamento com o escritor Salman Rushdie.

É claro que Padma entrega o ouro logo no começo, e inicia o livro falando do relacionamento com Salman: sobre como eles se conectaram de primeira e logo se apaixonaram, o drama de estar namorando alguém casado, como ela se sentia ao redor dos amigos escritores e intelectuais dele, e o que aconteceu para tudo dar errado. Não é surpreendente que a imagem apresentada de Rushdie é de alguém arrogante e egoísta, ainda que charmoso; minha parte favorita é quando ela diz que ele ficava aguardando ansioso o anúncio do Prêmio Nobel de Literatura e depois, ao não ganhar, dizia coisas como "gênios como Proust e Joyce nunca ganharam também". 

Após o término do relacionamento deles, a história retorna mais ou menos ao começo da vida de Padma: temos capítulos sobre sua infância na Índia e a mudança para os Estados Unidos, recheados por memórias gustativas e (poucas) receitas. Gostei da abordagem culinária, mas quem não tem muito conhecimento sobre comida indiana como eu pode sofrer um pouco para imaginar os sabores descritos — o que é um problema meu, não do livro.

Para quem é fã de Top Chef, Padma acrescenta aqui e ali pequenas curiosidades ou fatos sobre o programa, mas ele está mais como pano de fundo dos acontecimentos pessoais do que como foco de algum capítulo, por exemplo. Quem esperar muito sobre o bastidores pode ser decepcionar.

Após o relacionamento com Salman Rushdie, Padma esteve envolvida com dois homens: o rico Adam Dell e o ricaço Teddy Forstmann. Temos então novos dramas, como os desentendimentos com Adam, pai da filha dela, e a morte de Teddy (a tal da "loss" do título). Não é a parte mais interessante da biografia, mas, como o resto do livro, é fácil de ler.

Muitas resenhas sobre esse livro apontam para Padma como "metida" ou "reclamona". Eu particularmente não fiquei com essa impressão. É verdade que ela não reconhece tanto seus privilégios e falar sobre as discriminações que sofreu na vida (como mulher indiana, como modelo com uma cicatriz grande no braço) pode dar a impressão de que ela se vê como coitadinha — a comparação entre a família de Salman, de ricos, com a dela, de classe média, por exemplo, dá a impressão de que ela se acha pobre, quando o simples fato da sua mãe ter se mudado para os Estados Unidos nos diz que ela não é tão pobre assim. O fato é que ela teve sim uma vida bem diferente da imagem da celebridade americana média e não vejo por que isso não deveria estar exposto.

Por outro lado, também entendo a opinião de quem não gostou da figura de Padma exposta no livro: são suas memórias, e não há como escapar de momentos egoístas ou erros cometidos. A autora vende uma imagem mais acessível, mais humana — ainda que sem excessos —, em oposição à figura de uma mulher modelo e inspiradora pela qual poderia se esperar de uma autobiografia. 

Como não costumo ler biografias, é difícil de avaliar esse livro dentro do gênero. No geral, achei o formato um pouco irregular — às vezes os capítulos iam e voltavam no tempo, tornando a leitura confusa. O conteúdo é mais ou menos o esperado: muito sobre os relacionamentos de Padma, alguma coisa sobre a família e a juventude e um pouco sobre a carreira. Tudo isso, é claro, temperado pelas memórias culinárias. Não é, enfim, um livro que mudou minha vida, mas algumas observações o fizeram valer a pena para mim.

Avaliação final: 3/5

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