quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Let it snow, John Green, Maureen Johnson e Lauren Myracle

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Não sou muito fã do tema do Desafio deste mês, mas por acaso acabei lendo mais de um livro sobre o Natal.

Escolhi Let it snow para estrear meu Kindle, já que é um livro de contos e daria para intercalar com outras leituras, além de ser uma boa forma de eu conhecer três autores dos quais não tinha lido nada antes.

Mas acabei percebendo que não deveria julgar os autores pelos contos… Acho que contos de romance não são muito fáceis de criar, não dão o envolvimento que eu, pessoalmente, precisaria para gostar bastante da história.

O conto mais curto do livro, do John Green, por exemplo, eu achei superficial demais. Fica só o esqueleto da história, que é bizarro (três amigos saem de carro numa tempestade de neve só para ver líderes de torcida?); o romance, que é um clichê; os personagens sem muito desenvolvimento, que são clichês (acho super legal ele ter personagens coreanos, mas precisavam ser dois nerds que ficam babando por qualquer mulher? Um personagem estereotipado ok, tratando-se de uma história sobre nerds, mas dois já é preconceito); umas piadinhas sem graça e muita citação de marcas sem a necessidade (normalmente eu não me irrito com isso, mas qual a necessidade de saber que os tênis dele eram Pumas sem falar mais a respeito dos tênis?). É uma leitura rápida e ok, mas pela fama do John Green, achei bem decepcionante.

O conto da Maureen Johnson, o primeiro, é um pouco menos bizarro que o do John Green, mas continuo achando um pouco irreal (o trem dela quebra no meio do caminho e ela decide sair, conhece um estranho e vai para a casa dele? Isso fora outros detalhes). Os personagens principais são um pouco mais simpáticos e por isso acaba sendo mais fofo.

O terceiro conto, da Lauren Myracle, é o mais polêmico. Muita gente odiou esse conto, eu não achei tão ruim, o problema mesmo é que é comprido demais mas mesmo assim não desenvolve o final. A protagonista é uma menina que só pensa em si mesma e aos poucos vai caindo na real, até ter seu milagre de Natal e mudar. Para mim, que não acredito em espírito natalino e nada do tipo, essa mudança súbita não colou e fiquei triste que ela se deu bem no final, mesmo sabendo que isso ia acontecer (afinal de contas, era para ser um romance, como diz a capa). O que eu achei legal nesse conto, e no livro todo, é que se passa na mesma cidade e os personagens se conhecem e aos poucos vão aparecendo nos outros contos. Esse conto conseguiu finalizar bem a história de todo mundo, menos a sua própria, com um final feliz demais e sem discussões.

Enfim, é uma leitura rápida e um pouco clichê, mas recomendo para quem gosta do clima natalino, especialmente quem sempre sonhou com um Natal com neve.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Livro, José Luís Peixoto

Livro

Acabei não cumprindo o desafio em setembro, mas volto agora no fim do ano para concluir o Desafio Literário lendo pelo menos um livro de cada tema.

O tema era literatura portuguesa contemporânea e decidi ler um livro pelo qual já me interessava há um bom tempo: Livro, do José Luís Peixoto.

A história de Livro envolve uma vila portuguesa, a França, filhos, pais, mães e livros.

Eu não sabia muito bem o que esperar da leitura, tinha um pouco de medo que o livro fosse difícil de entender ou algo do tipo. Não achei difícil no final, mas é o tipo de livro que demora para me capturar. Você precisa estar no clima, concentrado, para gostar, se não a leitura vai ser arrastada — não que isso não aconteça com quase todo livro, mas alguns logo te fazem entrar na história.

Eu comecei não gostando tanto, achando um pouco cansativo, mas aos poucos fui gostando mais e mais e cheguei no final triste por acabar.

Gostei bastante dos personagens, que mesmo simples têm vida própria, e da metalinguagem que aparece principalmente na segunda parte do livro. Recomendo para quem gosta de ler livros sobre livros.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A aventura do pudim de natal, Agatha Christie

Não tenho exatamente uma relação de amor com a Agatha Christie. Li acho que dois romances dela e não vi muita graça em nenhum. Não sei se é porque acho Poirot sem sal, ou porque prefiro Sherlock Holmes e Watson, ou simplesmente porque ponho muita expectativa nas resoluções dos crimes e elas acabam sendo decepcionantes.

Mesmo assim, decidi dar outra chance para ela. Este livro não é tão conhecido, mas o nome parecia promissor e ele se encaixa no Desafio do mês, para o qual eu não tinha muitas ideias.

Porém, descobri que a tal Aventura do pudim de natal era só um conto. Decepção. E não era tão aventura assim. Decepção. E os outros contos também não eram tão legais. Decepção.

Continuo achando Poirot sem graça (e a Miss Marple também!). As resoluções do crime ou eram bizarras demais ou eram sem graça. E como os contos são curtos, não dá para entrar tanto na história, desconfiar mais de alguém ou alguma coisa assim.

Para os fãs da Agatha Christie, este livro deve sim interessar. Mas eu só vou procurar lê-la novamente quando não tiver outras opções.

sábado, 16 de novembro de 2013

Moll Flanders, Daniel Defoe

Moll Flanders

Li Moll Flanders para a faculdade e decidi aproveitá-lo para o Desafio Literário. O tema deste mês é livro banido.

Moll Flanders, como o nome já diz, conta a história de Moll Flanders, uma mulher que nasce pobre mas não aceita sua condição e tenta enriquecer de diversos modos: através de casamentos, prostituição e roubos. É ela que narra a história e vemos um suposto olhar de arrependimento, mas seria este olhar confiável?

O livro é do século 18, e atualmente parece um pouco ultrapassado, entediante até. A construção do romance não é das melhores, o enredo pula partes que pareciam importantes e a estrutura episódica é um pouco estranha. É interessante ler o livro agora e refletir sobre a história da literatura, especialmente dos romances, mas lê-lo por diversão não me parece uma boa ideia…

O que eu gostei no romance é que, hoje, as falas de Moll Flanders parecem um pouco irônicas e realmente não sabemos se devemos confiar na sinceridade dela. Ela diz que se arrepende, mas suas ações dizem o contrário. Isso acaba deixando o livro mais divertido e alguns sorrisinhos podem surgir durante a leitura.

Moll Flanders é certamente um livro importante para a literatura, mas assim como alguns outros clássicos, não me fisgou completamente.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Compramos um zoológico, Benjamin Mee

Compramos um Zoológico

Minha tia me emprestou este livro faz um tempo. Comecei a ler em agosto, mas parei para ler coisas da faculdade. Como o Desafio Literário de novembro é de histórias de superação, achei uma boa voltar a lê-lo agora.

O livro é sobre um jornalista — o autor — que decide comprar um zoológico com sua família. Mesmo sem experiência nesse tipo de negócio, ele vai em frente e tem de lidar com os mais diversos problemas: desde conseguir dinheiro para consertar o zoológico até animais fugindo das jaulas. Junto às dificuldades de administração, Benjamin deve enfrentar outro problema: o tumor cerebral da sua mulher volta a atacar.

Eu não costumo ler livros de não ficção, mas me interessei por este pelo tema  do zoológico. A verdade é que, sobre esta parte, o livro me decepcionou um pouco. Ele não foca nos animais, o principal é a administração mesmo e há muitas coisas sobre construção — o autor escrevia sobre bricolagem no jornal. O livro foca no período de reforma do zoológico, antes de ele abrir para o público. Mesmo assim, há uma discussão sobre a importância de zoológicos, especialmente para preservar espécies.

A narrativa é bem-humorada e fácil de ler, tornando a leitura agradável e não tão dramática, o que para mim foi um ponto positivo, já que o livro poderia se tornar meloso demais, mas ao mesmo tempo acho que isso dificulta um grande envolvimento com a história e até a empatia pelos personagens. A história é de superação, mas não tem um tom de superação, tem um tom um pouco superficial.

Enfim, Compramos um zoológico é interessante, mas não o recomendo para quem não gosta de não ficção.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A vingança da Cagliostro, Maurice Leblanc

A Vingança da Cagliostro

Li A vingança da Cagliostro para o Desafio de agosto. Não sabia se Grotescas iria contar, então peguei este na biblioteca para garantir. Como não tinha lido nada do Arsène Lupin antes, quis experimentar.

O livro é sobre Arsène Lupin, um ladrão um tanto peculiar. Nesse livro, ele vai atrás de um senhor para roubar o dinheiro dele e acaba se envolvendo em outro crime, desta vez praticamente como detetive. E o resto da história eu não vou contar porque perde a graça.

O livro é um romance policial e se parece bastante com outros romances policiais, como os de Conan Doyle e Agatha Christie. O que considerei acima da média foi o personagem principal. Lupin é mais carismático que a maioria dos detetives e eu gosto dessa relação ladrão/detetive que ele tem.

Foi uma leitura rápida e divertida. Fiquei com vontade de ler mais livros do Lupin.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Grotescas, Natsuo Kirino

Grotescas
Esse é o primeiro livro que eu leio da Natsuo Kirino. Já ouvi falar bastante dos outros livros dela e Grotescas não parece fugir do padrão da autora.

O enredo é um pouco complicado para explicar, mas é basicamente isso: duas prostitutas, Yuriko e Kazue, são assassinadas em diferentes momentos, supostamente pela mesma pessoa. Elas se conheciam, pois tinham estudado no mesmo colégio, e Kazue era colega da irmã de Yuriko. É a irmã de Yuriko, não nomeada no livro, que narra a maior parte, explicando a história delas, o seu relacionamento conturbado com a irmã, a vida escolar no colégio onde há claramente separações entre as incluídas e as excluídas, o julgamento do assassino… Há outras vozes: diários das assassinadas e o depoimento do criminoso, mas tudo é ligado com o relato da irmã.

Não é um livro tão policial quanto parece ser, o foco é na monstruosidade da sociedade e, como reflexo disso, dos personagens. Não há personagens bonzinhos, todos são maus, egoístas e em geral tem uma visão um tanto deturpada deles mesmos. Ao mesmo tempo em que isso dá um trato mais realista ao livro, já que os personagens são sinceros e têm falhas, é também exagero, e em muitos momentos eu me perguntei se era possível existir pessoas daquele jeito. Mas, como o título já diz, a ideia é que os personagens sejam grotescos mesmo.

Uma parte importante do livro é a crítica à sociedade japonesa, machista, opressora e de aparências. Eu não entendo muito sobre cultura japonesa, mas é interessante comparar a visão do livro com a visão de alguns animes.

No geral, o livro é bem envolvente. A troca constante de narrador, sendo praticamente um capítulo narrado pela irmã da Yuriko para um por outra pessoa, não incomoda, embora algumas narrativas me cansaram um pouco. O depoimento do assassino traz toda uma história sobre a imigração dele para China. É interessante, mas ficou um pouco deslocada, principalmente considerando que o final do livro não amarrou as pontas. No final, ficou uma sensação meio estranha. Como não podemos confiar em nenhum narrador, não sabemos direito qual é a verdade, e me parece esquisito não ter certeza da resolução do mistério. Não sei, acho que os personagens poderiam ter sido usados para um enredo melhor.

O livro foi bom para o primeiro contato com a autora. Apesar de eu ter implicado com algumas coisas, no geral a leitura foi bem interessante.

E sobre o Desafio Literário: apesar da vingança não ser o tema central da obra, há personagens rancorosas e vingativas, tanto no sentido de pequenas vinganças direcionadas a alguém específico quanto no de “estou fazendo por vingança mas não sei de quem estou me vingando”, mais dirigida à sociedade como um todo.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Meio intelectual, meio de esquerda, Antonio Prata

Meio intelectual, meio de esquerda

O Antonio Prata não é exatamente um autor novo para mim, visto que leio suas crônicas na Folha de São Paulo. Mas, como nunca tinha lido um livro dele antes, considerei-o como inédito.

Meio intelectual, meio de esquerda é uma reunião de crônicas do autor, principalmente de quando ele publicava no Estadão. As crônicas costumam falar de assuntos cotidianos, que vão da mania que as pessoas têm de levantar antes da parada total do avião até os trocadilhos nos nomes de pet shops. Elas costumam parecer despretensiosas, mas em geral não são tão banais e acabam refletindo a vida dos brasileiros (ou, para ser mais específica, a vida dos paulistanos de classe média – assim, seria difícil que eu não me identificasse).

Ao mesmo tempo em que não sei se gosto tanto de livros de crônicas (prefiro lê-las no jornal mesmo e não faço questão de relê-las ou tê-las comigo), ler Antonio Prata é uma delícia e não me cansei lendo várias crônicas em seguida.

Enfim, se você é assim, meio intelectual, meio de esquerda, e quer ler crônicas atuais bem-humoradas e certeiras, leia este livro.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

O Caderno Vermelho, Paul Auster

O Caderno Vermelho

Não tive grande inspiração para o Desafio deste mês, então acabei indo na escolha da minha irmã: O caderno vermelho, do Paul Auster. Só tinha lido um livro do autor e gostado bastante, mas esse foi uma decepção.

O caderno vermelho é formado por quatro partes maiores, que são formadas por pequenas histórias sobre coincidências e acasos. Segundo o autor, todas são histórias verdadeiras, mas achei algumas bem inacreditáveis.

Bom, em primeiro lugar, eu não consegui ver um elemento unificador entre cada parte, achei meio estranha a separação. Se fosse vendido como um livro de pequenas crônicas sem ordem específica, tudo bem, mas não era o caso. Além disso, o fato de as histórias serem verdadeiras me deu um pouco de preguiça, porque dá margem para o autor falar demais da vida pessoal dele e isso sinceramente não me interessa. E, apesar de ele escrever bem, o estilo pessoal não me agradou nesse livro.

Algumas histórias são realmente surpreendentes e dignas, mas outras me pareceram bem sem graça. Não sei, acho que depois de ler Timoleon Vieta volta para casa, em que o acaso também é muito importante, as coincidências sem sentido de O caderno vermelho perderam a graça. Talvez eu não tenha gostado também por não conhecer direito a obra do autor e assim não entender a necessidade de se falar sobre o acaso…

É uma leitura rápida e simples. Eu não gostei por motivos bem particulares, mas pretendo dar mais chances para o Paul Auster.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Timoleon Vieta volta para casa, Dan Rhodes

Timoleon Vieta volta para casa

Minha irmã descobriu este livro numa promoção das Lojas Americanas. Como somos consumistas, mas nem tanto, pesquisamos se tinha em alguma biblioteca antes de comprar, e tinha. Assim, economizamos R$ 4,90 e um espaço na estante (dá pra dizer que economizamos algo que nem temos? No caso, o espaço, não o dinheiro).

Timoleon Vieta é um simpático cãozinho. Seu dono é Cockroft, um senhor velho e desesperado por companhia. Os dois viviam bem juntos, apesar da solidão, até que o Bósnio entra em cena. Cockroft faz de tudo para agradá-lo e mantê-lo em sua casa e acaba por concordar em abandonar o pobre Timoleon Vieta. Esta é a primeira parte do livro e tem uma estrutura mais convencional de romance.

Já a segunda parte é formada por unidades quase independentes. São histórias de pessoas que de alguma forma cruzam com Timoleon Vieta em sua jornada para casa. O cachorro pode ter um papel central ou não na história.

A leitura fluiu bem. A primeira parte foi rápida de ler e fiquei um pouco decepcionada ao chegar na segunda, pois não sabia que seria tão fragmentada. Mas logo me acostumei e gostei da segunda parte também.

Há um certo humor (um tanto negro) na narrativa que me parece característico de escritores britânicos, como Nick Hornby e Mark Haddon. O próprio Cockroft me lembra um personagem do Nick Hornby (só que bem mais decadente).

Gostei bastante do livro, embora não seja um livro para todos. Ele pode ser vendido como um livro sobre cachorros, mas o foco nem sempre é em Timoleon Vieta e o livro é pesado para alguns públicos.

Não conhecia o autor antes, mas se tiver outra chance pretendo ler mais livros dele.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Crônica de um Vendedor de Sangue, Yu Hua

Crônica de um Vendedor de Sangue
Crônica de um vendedor de sangue conta a história de Xu Sanguan, um operário que vive na China maoísta. Ele vende sangue, primeiro por vontade e depois por necessidade, enquanto sua família passa por problemas materiais e conflitos morais.

Conheci o livro por alguma resenha no Desafio Literário do ano passado. O enredo me chamou a atenção, e não lembrava de ter lido outro autor chinês antes. Então, aproveitando a conveniência do livro se encaixar no desafio de volta ao mundo, decidi lê-lo agora.

O tom do livro é um pouco cômico, o que é surpreendente visto que o contexto histórico é trágico. O livro apresenta bem o contexto para os leitores ocidentais, sem deixar de dar um brilho próprio à história.

A leitura foi num ritmo bom, mas achei a passagem do tempo meio estranha, focando muito em alguns períodos e passando rápido outros. Parece que o livro deu um salto grande no tempo, e isso não me agradou (bastante por questões pessoais e por ter preferido o começo, admito).

Gostei bastante do livro e pretendo ler mais coisas do autor no futuro. Foi uma ótima introdução a literatura chinesa.

terça-feira, 16 de julho de 2013

A Idade dos Milagres, Karen Thompson Walker

A Idade dos Milagres

Começando a Volta ao mundo em 80 livros pelos Estados Unidos, um dos mais fáceis. Eu queria ler esse livro há um tempo, desde que vi a sinopse da edição em inglês no Skoob. Quando ele foi lançado no Brasil, me interessei pela capa e vi que era o mesmo livro que eu já queria ler antes. Passou um tempo e finalmente tive a oportunidade de pegá-lo na biblioteca.

O livro conta a história de Julia, um garota californiana de onze anos. Um dia, ela e sua família recebem a notícia de que a rotação da Terra está ficando mais lenta. Isso causa uma série de eventos, tanto naturais quanto humanos. Há um clima apocalíptico no ar, mas Julia tem que lidar com as mudanças e continua a viver sua pré-adolescência com os problemas cotidianos.

Eu me interessei por essa mistura de distopia e cotidiano, mas no final o que eu mais gostei mesmo foi a parte cotidiana, até porque a parte distópica não é tão explicada e desenvolvida. Alguns fenômenos naturais acontecem, porém não chamam tanta atenção. O foco é na vida de Julia, no seu relacionamento com a família e com os colegas e no seu crescimento. Julia é uma personagem simples e quieta, e acho que é isso que gostei tanto nela. Ela é uma menina comum e é fácil de se identificar com ela.

O livro é narrado pela Julia e eu achei muito bem escrito, honesto e sensível. Algumas coisas me irritaram, como a repetição dos efeitos da Terra estar girando mais devagar, mas isso ajudou a não esquecer do fato. Também não sei se gostei do fato da Julia contar no final dos capítulos algumas coisas que iam acontecer depois. Ao mesmo tempo que é um recurso batido, ajuda a manter a curiosidade…

A edição em português está muito boa, a capa brilha no escuro! Só por isso, o livro já valeria a pena. Eu o recomendo para quem quer uma história singela com toques (e apenas toques) distópicos.

P.S.: achei curioso que no livro os personagens de onze anos já estão começando a beber e fumar. Fiquei me perguntando se isso acontece mais cedo nos Estados Unidos ou se eu que era inocente demais para perceber na época em que aconteceu com os meus colegas.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Volta ao mundo em 80 livros

Minha irmã se inspirou na ideia desse blog e eu roubei a ideia dela. O desafio consiste em ler 80 livros de escritores de nacionalidades diferentes. Vai funcionar assim:

- para cada país, preciso ter lido pelo menos um livro de um autor que eu nunca tenha lido. Essa vai ser a contagem oficial e todos os primeiros livros oficiais de cada país devem ser resenhados.

- releituras e livros de autores não inéditos participam da volta ao mundo, mas não contam oficialmente. Ou seja, se eu quiser ler o livro no período, vou colocar na lista, mas ele não conta entre os 80 oficiais. Isso porque eu também pretendo ver durante o desafio qual é a variedade não oficial das coisas que eu leio e ver que países se destacam. Eu vou resenhar estes apenas se eu quiser. Não vou colocar na lista os escritores que não têm nacionalidade muito bem definida ou que eu não conseguir descobrir.

- o desafio começa a partir do dia 1 de julho de 2013.

- não há uma data para o final do desafio porque não quero ler tudo corrido e nem sei se vai ser fácil. O que eu quero é terminá-lo em algum momento da minha vida.

- a lista de leituras está aqui. Separarei os livros por país e os livros de autor inédito estão em negrito.

domingo, 30 de junho de 2013

Afluentes do rio Silencioso, John Wray

Afluentes do rio Silencioso

Afluentes do rio Silencioso é um livro que eu tive vontade de ler quando saiu no Brasil. Porém, não vi muita gente falando sobre ele ou comentários muito positivos, então perdi um pouco o ânimo. Mas, já que era uma opção possível na biblioteca e possivelmente se encaixaria no tema do mês do Desafio Literário, finalmente o li.

E realmente o livro não é muito bom do tipo que vale a pena ter (estantes cheias, sabe como é), mas valeu a pena ter pego na biblioteca para matar a curiosidade. É a história de William Heller, um jovem com esquizofrenia. Ele acredita que o mundo vai acabar mas que ele pode salvá-lo, então foge da clínica psiquiátrica onde estava. Enquanto ele vaga por aí, ficando principalmente no metrô, o detetive Ali Lateef e a mãe de William tentam encontrá-lo.

O livro é basicamente uma mistura de thriller com romance psicológico, mas não faz nenhuma dessas coisas com profundidade. Não há muito suspense e emoção na parte thriller (embora uma revelação no final tenha me surpreendido) e os personagens também não são tããão explorados psicologicamente. É claro que essa opinião pode ter sido influenciada pelo fato de o último livro que eu li foi Precisamos falar sobre o Kevin, e não há comparação entre a atmosfera pesada deste com a narração quase descontraída de Afluentes.

A minha expectativa é que o livro fosse mais parecido com O estranho caso do cachorro morto, mas não achei que Afluentes tratou tão bem a doença mental. Talvez por não focar tanto na doença, talvez pela doença em si ser mais “desorganizada”. Não sei. Mas se você já sabe alguma coisa sobre esquizofrenia, não é um livro que vai acrescentar sobre esse assunto.

No entanto, não nego que gostei do livro, ele prendeu a atenção boa parte do tempo e gostei do fato do foco narrativo se dividir entre William, sua mãe e Ali (embora seja narrado em terceira pessoa, cada parte tem o olhar de um destes personagens).

Portanto, esse livro pode não ser o livro da minha vida, mas vale a pena ser lido.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Precisamos falar sobre o Kevin, Lionel Shriver

Precisamos falar sobre o Kevin

Eu tenho Precisamos falar sobre o Kevin há um tempão, mas só agora tive disposição para lê-lo. O fato de ele ser grosso me fez ficar com uma preguiça… Só o Desafio conseguiu me animar para lê-lo. E não me arrependi.

A história, que provavelmente todo mundo já conhece, é a de um menino, Kevin, que cometeu uma chacina na escola. O livro é formado por cartas da mãe dele, Eva, ao marido tentando entender a situação, então o foco é na criação do Kevin, na vida dele e de sua família pela visão da mãe.

O tema é muito atual e pouco comentado na literatura. Gostei do foco na mãe, pois é uma visão diferente. Quantas vezes não se pensa na mãe dos assassinos como culpada do que aconteceu? O livro levanta muitas questões sobre psicopatia, mas não é um assunto que eu conheça bem, então não vou discutir sobre isso.

O foco na mãe também traz uma discussão interessante sobre a vida familiar. Afinal, o pai de Kevin, apesar de ser bonzinho até demais com o filho, não o é com Eva. Ela ganha mais no trabalho e não se dá bem com o bebê, mas é ela que tem que parar de trabalhar para cuidar dele, porque esse é o papel das mães. É o pai também que decide que eles vão se mudar, sem nem consultar Eva.

Mas, apesar do livro me deixar com especial raiva do pai, todos os personagens têm grandes defeitos. Eva, por exemplo, tem um sentimento de superioridade por ser armênia e um desprezo dos americanos (do qual Kevin espertamente zoa). Os personagens principais, com a exceção de Kevin por motivos óbvios, parecem extremamente reais. É isso de que eu mais gostei no livro.

Para mim, fora algumas questões do enredo que acho que foram pouco exploradas, o único defeito do livro é ser um pouco cansativo. É um tipo de cansativo que não tira os méritos do livro, porque no final você sente que realmente conhece os personagens e a história justamente por causa da repetição de algumas coisas. Ou seja, até os defeitos do livro são ambíguos…

Enfim, Precisamos falar sobre o Kevin é denso e polêmico, o livro que mais mexeu com as minhas emoções em um bom tempo.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

A Obscena Senhora D, Hilda Hilst

A Obscena Senhora D

Miudez, quentura, gosto. Mover-se pouco. Não dizer. As mãos na parede. Pensar o corpo, tentar nitidez. Hillé menina tateia Ehud menino. Dedos dos pés. Se a gente mastigasse a carne um do outro, que gosto? e uma sopa de tornozelo? E uma sopa de pés? Na comida não se põe pé de porco? Por que tudo deve morrer hen Ehud? Por que matam os animais hen? Pra gente comer. É horrível comer, não? Tudo vai descendo pelo tubo, depois vira massa, depois vira bosta. Fecha os olhos e tenta pensar no teu corpo lá dentro. Sangue, mexeção.

(A obscena senhora D, p. 42)

O tema do Desafio Literário de junho é romance psicológico. Eu acho bem complicada a definição de romance psicológico, mas acredito que esse livro se encaixa no tema.

Li A obscena senhora D porque um professor falou sobre ele em uma palestra e fiquei curiosa com a estranheza do enredo: após a morte de seu amor, uma senhora de sessenta anos passa a viver no vão da escada procurando pelo sentido da vida. Já que o livro é curto, eu queria pegar alguma coisa na biblioteca e ele se encaixa no desafio, decidi lê-lo agora.

Eu tinha medo de ser um livro muito difícil, totalmente maluco e que eu não fosse entender nada. Bom, em parte eu estava certa. O livro não tem o vocabulário mais fácil do mundo e não é exatamente linear, além das falas dos personagens se confundirem. Mas isso faz parte e é o esperado do fluxo de consciência, né?

O livro tem uma linguagem poética e uma densidade psicológica excelentes. Fiquei me imaginando lendo o livro depois de estudar psicologia ou mesmo só ler análises sobre ele.

Como o título já diz, o livro é um pouco pesado e obsceno. Não é um livro para quem quer se distrair com a história, é para refletir junto (e sobre) a senhora D.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

TAG: Encontre o livro

Sempre curti ler tags alheias, mas nunca tive paciência para fazer as minhas e postá-las no blog. Mas, como eu sempre digo que vou postar no blog, consegui reunir ânimo (depois de muuuito tempo) para postar essa tag.
A tag foi criada pela Sarah e traduzida para o português pelo Psychobooks. Originalmente era feita em vídeo, mas não tenho coragem de mostrar a cara e nem a capacidade de fazer um vídeo bom. Então tirei fotos dos livros (que não ficaram muito boas, mas isso não importa).
Como sou indecisa e queria ter mais motivos para falar dos meus livros sem escrever resenhas, decidi escolher mais de um livro para cada categoria, tentando diversificá-los um pouco.

1- Encontre um livro com a letra Z no título/autor.
P1030404Escolhi três com palavras/nomes que começam com Z (porque eu não sabia se podia ter Z no meio). Não foi fácil encontrar palavra com Z, só encontrei Compramos um zoológico mesmo. Ainda não li e não é meu, é emprestado da minha tia, mas como está na minha estante (ou melhor, no meu armário), vale, né? O segundo livro é uma antologia com 12 contos e uma das autoras é a Zadie Smith. Ainda não li também, mas comprei porque tem alguns autores que eu gosto (Nick Hornby, Roddy Doyle) e outros que eu tenho curiosidade em conhecer (Irvine Welsh, Dave Eggers). O último é Eu sou o mensageiro, do Marcus Zusak. Não tenho muito o que falar sobre ele, só sei que eu curti muito quando eu li.

2- Encontre um livro clássico.
P1030409Esse foi fácil, tenho vários clássicos, principalmente herdados da minha família. Escolhi As aventuras de Tom Sawyer porque deve ter sido um dos primeiros clássicos que li e gosto muito dele. Achei que deveria ter um representante da literatura brasileira, então peguei também Memórias póstumas de Brás Cubas, primeiro (e único até agora…) romance do Machado que li. E um dos melhores livros que eu já li na minha vida. Por fim, escolhi Madame Bovary só porque eu gostei muito quando li e não queria pegar outro clássico anglófono ou lusófono.

3- Encontre um livro com uma chave na capa.
P1030413Esse tema foi bem difícil, não consegui encontrar nada de primeira, tive que olhar os livros com cuidado. Harry Potter dispensa apresentações, né? O segredo do violinista é infanto-juvenil. Eu não gostei muito dele, tanto que tá na lista de livros para serem doados e eu tive que resgatar do saquinho para tirar a foto. Já As coisas eu ainda não li. Comprei (ou melhor, pedi de aniversário) porque saíram boas críticas dele, mas tenho medo de ser difícil demais para mim.

4- Encontre alguma coisa na sua estante que não seja um livro.
P1030415Um porta-lápis cheio de marcador de livros! Não tenho muitos badulaques bonitos na estante…

5- Encontre o livro mais velho da sua estante.
P1030417Esse livro encapado é Grandes esperanças, do Charles Dickens. Ele é de 1942 e era do meu avô (e não sei por que veio parar em casa). Eu ainda não li e nem sei se vou ler nessa edição, acho mais legal ler no original. Já Naná é de 1946 e, como dá para ver pela foto, está caindo aos pedaços (mas é só a capa). Ele foi comprado num sebo.

6- Encontre um livro com uma garota na capa.
P1030424Como não tenho muitos YAs, não achei tão fácil assim. Queria encontrar mais capas com fotos, mas tenho mais com ilustrações mesmo (o que é bom, porque acho mais bonito). A escada dos anos tem resenha aqui. Adeus tristeza é um graphic novel que eu ganhei de aniversário ano passado. Ainda não li, mas parece ser bem legal. E foi Coraline que me apresentou ao mundo do Neil Gaiman, e continua sendo um dos meus preferidos dele.

7-Encontre um livro que tenha um animal.
P1030426Esse foi bem fácil, tenho muitos livros com animais na capa, mesmo que eles nem sempre sejam o assunto do livro. O pio da coruja é um infanto-juvenil bonitinho e eu só o escolhi porque acho essa capa uma gracinha. Já Norwegian Wood não tem relação direta com as borboletas da capa e é o único livro do Murakami que eu li por enquanto. O incrível livro de hipnotismo de Molly Moon também é infanto-juvenil. Eu li pela primeira vez quando eu tinha uns dez anos, e continuo gostando dele até hoje. Essa cadelinha na capa é a Petula.

8- Encontre um livro com um protagonista masculino.
P1030454De primeira eu pensei que fosse fácil, que eles fossem a maioria na minha estante. Mas até que eu tenho vários livros com protagonistas mulheres ou com protagonistas dos dois sexos. Enfim, escolhi O menino que odiava mentira, que li esse ano e gostei, mas não sei se vale tanto a pena assim(?), Indignação, que li para a escola e gostei também, e Alta fidelidade, que é um dos mais famosos do Nick Hornby, mas não é meu favorito dele (e precisa urgentemente de uma releitura minha).

9-Encontre um livro com apenas letras na capa.
P1030437Olha que legal, ainda não li nenhum dos livros que eu escolhi! Eu li The secret garden em português só, numa edição provavelmente emprestada de uma biblioteca. Como essas edições da Penguin são baratinhas, minha irmã comprou esse e The little princess, mas ainda não os li em inglês. A Nova antologia do conto russo foi comprada no fim do ano passado e não sei quando vou ler, só sei que simpatizo bastante com a literatura russa e quero ler aos poucos (de preferência quando/se eu estudar literatura russa). E eu coloquei Cabeça tubarão aqui só porque esse desenho de tubarão é feito com letras! Esse livro parece ser bem estranho, estou ao mesmo tempo curiosa e com preguiça de lê-lo…

10- Encontre um livro com ilustrações.
P1030444Eu amo livros com ilustrações! Escolhi Faca porque ele não é infanto-juvenil (e porque eu gostei bastante dele: resenha aqui). Ainda não li Wildwood e confesso que só quis lê-lo por causa das ilustrações… E A girafa, o pelicano e eu é um dos livros que eu mais li na minha vida. Abaixo, um exemplo das ilustrações de cada livro, na ordem da foto (e dois de Wildwood).
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11- Encontre um livro com letras douradas.
P1030430Mal dá pra reparar na foto que os livros têm letra dourada… Não tem muito o que falar sobre eles, eu queria pegar coisas diferentes, mas só achei eles (e os outros Crônicas de Nárnia. Escolhi esse porque é o meu favorito).

12- Encontre um diário (real ou ficção).
P1030451Só encontrei dois (mas minha irmã acabou de ganhar outro: Éramos jovens na guerra). Não gosto muito de nenhum desses livros, O diário de Susie é bem educativo e bobinho e O diário de Anne Frank é o diário de uma menina com a qual não consigo simpatizar (desculpa aí, sociedade). Tenho dó dela e tal, mas não é porque ela escreveu um diário (chatinho, por sinal), que ela vai ser superior a todas as outras vítimas da guerra.

13- Encontre um livro escrito por alguém com um nome comum (por exemplo Smith).
P1030456Escolhi A espada na pedra, do T. H. White, um livro bem legal sobre a história do rei Arthur, O menino sem imaginação, um livro juvenil brasileiro que eu considero acima da média (tenho preconceito com juvenis brasileiros lidos em escola, aquela literatura meio educativa, sobre temas polêmicos, sabem?) e Retalhos, do Craig Thompson, que tem resenha aqui. O meu critério foi pegar sobrenomes que pelo menos mais alguém que eu conheço tem.

14- Encontre um livro que tenha um close up.
P1030464Achei esse tema difícil… Nenhum desses livros é meu nem fica no meu quarto, mas foi o que eu achei. As feiticeiras de East End é um YA pelo qual eu não tenho especial apreço… Não sou muito fã de YA de fantasia. Já A caminho do verão é um YA fofo. Não sou apaixonada pela Sarah Dessen, mas a considero bem acima da média no mundo YA. E Lolita é muito bom, mas não me marcou especialmente (resenha aqui).

15- Encontre o livro da sua estante em que a história se passa no período mais remoto.
P1030443P1030435Primeiro eu tinha pensado que era Ilíada, que provavelmente se passa por volta do século XIII antes de Cristo. Pensei em Histórias da pré-história, mas achei que as histórias não tinham data específica. E elas não têm mesmo, mas em geral há indicação de tempo nelas: há mais de um bilhão de anos… Não tem como competir com isso (e esse livro é uma graça!).

16- Encontre um livro Hard Cover sem a jacket (não vale tirar!).P1030462
Não tenho muitos livros de capa dura no geral. Escolhi Esto no es todo, que tem tirinhas do Quino, Arquivo Artemis Fowl, para Artemis Fowl, uma das minhas séries favoritas, aparecer por aqui, e Daytripper, que tem resenha aqui.

17- Encontre um livro Turquesa/Teal.
P1030433Esse tema foi difícil! Turquesa é uma cor linda, mas não é muito comum nas minhas capas. Até verde musgo é mais comum! Então peguei O castelo animado, que tem o céu meio turquesa, A roupa suja, que é da série do Manolito, uma daquelas crianças engraçadas que protagonizam livros fofos, e A gruta gorgônea, que só tem a lombada turquesa.

18- Encontre um livro com estrelas na capa.
P1030459Não foi fácil também. Tirando A estrela mais brilhantes do céu, em que as estrelas são óbvias, os outros eu tive que pegar por detalhes. O mistério da estrela é outro dos meus Neil Gaiman preferidos e acho O mundo de Sofia superestimado, apesar de gostar muito do Jostein Gaarder.

19- Encontre um livro que não seja do gênero YA.
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Como eu gosto de contrariar as regras, escolhi 3 YAs, porque eles não são maioria na minha estante. Eu nem sei se A irmandade das calças viajantes é considerado YA, já que foi lançado antes da explosão do gênero. Só sei que é meu preferido do gênero. Nick & Norah é daquelas leituras fofas e rápidas e, pra ser sincera, eu não entendi muito bem Submarino. O protagonista é um enigma para mim…

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Letra Escarlate, Nathaniel Hawthorne

A Letra Escarlate

Li A letra escarlate para o tema de livros citados em filmes do Desafio Literário. Eu não tinha especial vontade de lê-lo, mas é o único livro que eu lembrava de ser citado em filmes que eu vi, então achei mais legal do que procurar algo na lista de sugestões (que para ser sincera também não me interessaram tanto assim). O livro foi citado em A mentira e em Amor a toda prova.

O livro conta a história de Hester Prynne, obrigada a usar uma letra A escarlate no peito por ter cometido adultério numa comunidade puritana em Boston. Ela esconde dois segredos: quem é seu marido e quem é seu amante e vive com sua filha, gerada na traição.

Eu entendo por que esse livro é um clássico, ele é relevante historicamente, mas achei um pouco entediante. O narrador é muito repetitivo e dramático (vide a quantidade de pontos de exclamação usada no livro) e a história envelheceu mal para mim. É claro que fiquei com pena da Hester, mas não consegui simpatizar completamente com ela. É difícil ver a importância que a letra escarlate teve com a mente de hoje.

Enfim, não acho que seja um livro para todos, mas deve ter gente que vai gostar do estilo e da história. E essa edição da Penguin-Companhia é excelente, tem um ótimo ensaio do autor no começo sobre a época em que ele trabalhou numa alfândega e um posfácio que me ajudou a entender o livro.

terça-feira, 30 de abril de 2013

Verão, J. M. Coetzee

Verão

Este foi o primeiro livro do Coetzee que eu li. Eu tinha mais interesse em ler Desonra, mas meu pai ganhou Verão de aniversário há alguns anos e eu preferi desenterrá-lo do armário para o Desafio deste mês.

Verão mostra alguns relatos de pessoas diferentes sobre John, um escritor famoso, Nobel da literatura, já morto, para o seu biógrafo. As pessoas (na sua maioria, mulheres que tiveram algum tipo de relação amorosa com ele) falam o que achavam de John e coisas assim. Dessa forma, podemos ter uma visão (claramente parcial) de quem era o escritor e também dos donos dos relatos.

Apesar de o livro fazer parte de uma série (Cenas da vida na província), não senti falta de ter lido os outros primeiro. É possível gostar de Verão sem ter contextualizada a série e a vida do verdadeiro autor (o livro é sobre Coetzee, mas seria este o verdadeiro Coetzee?).

Acho que o livro me ganhou por parecer real, além de ter uma narrativa deliciosa. O personagem Coetzee me parece verdadeiro, mesmo sendo mostrado pela visão de terceiros, que também parecem reais. É interessante ver as semelhanças e diferenças nos relatos deles sobre o escritor e como elas se complementam.

O livro me envolveu muito, o que pode ser surpreendente pensando que ele não tem propriamente um enredo. Eu não sei muito bem dizer por que gostei tanto, só sei que estou curiosa para ler mais coisas do autor.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Eu sou um gato, Natsume Soseki

Eu sou um gato

(…) o verdadeiro diário dos que pertencem à espécie felina corresponde aos quatro comportamentos cardeais — andar, parar, sentar, deitar — e às atividades excretivas, que preenchem nosso cotidiano, inexistindo, pois, em meu entender, necessidade em especial de preservar nosso verdadeiro caráter por meio de procedimentos de tal modo maçantes. Tivéssemos tempo para manter um diário, seria melhor desfrutar esse tempo cochilando na varanda.

(Eu sou um gato, p.38-9)

Eu sou um gato, como o título bem explica, conta a vida de um gato. Ele não tem nome e sua vida se baseia em observar seu dono, um professor um tanto excêntrico.

Eu nunca tinha lido nada do Natsume Soseki. Tinha curiosidade, mas ao mesmo tempo uma certa preguiça. Achei que seria difícil, por causa da minha (nossa?) falta de referência da cultura oriental, ainda mais do início do século 20. Não achei difícil. Achei delicioso.

O livro é grosso e não tem um enredo grandioso, focando-se em pequenos acontecimentos cotidianos. O gato é sarcástico e tem uma visão bem crítica dos humanos. Além disso, os outros personagens são muito bons. Os amigos do professor são sensacionais, principalmente Meitei e suas histórias fantasiosas.

A leitura não foi rápida nem devagar, foi no ritmo certo. É um livro que não deve ser devorado, mas sim apreciado aos poucos, para a experiência durar mais. Só as últimas páginas, focadas em uma enorme conversa do professor e seus amigos, me cansaram um pouco.

O livro tem um tipo de humor que eu não sei explicar (me lembra um pouco Brás Cubas, mas não sei por quê). Só sei dizer que sorri muito durante a leitura. Poderia ter lido em fevereiro para o Desafio também.

A edição está muito boa, cheia de notas de rodapé (mais precisamente, 153) que pelo menos dão uma ideia de quem são as centenas de nomes citados. É claro que algo se perde não conhecendo todas as referências, mas também aumentou a minha vontade de estudar cultura japonesa e oriental. E, obviamente, reler o livro depois disso.

Não acho que seja um livro para todo mundo. Já vi algumas pessoas reclamarem que a história é parada, que desistiram e coisas assim. Talvez seja um livro para ser lido em um momento certo também. Mas fica a recomendação a todos que se interessaram.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Much Ado About Nothing, William Shakespeare

Much Ado About Nothing

Primeiro mês do Desafio e tema livre, deu tudo certo. Mas chegou fevereiro, com suas viagens, e meus planos para o Desafio já foram por água baixo. Por isso, acabei lendo só um livro que eu já tinha começado no ano passado.

Eu nunca fui a maior simpatizante de Shakespeare. Eu tinha birra com ele, admito. Mas aí eu tive que ler para a escola e fui com a mente aberta. Na teoria, foi bem legal, ler sobre o Renascimento, estudar sobre a vida dele e tal. Mas na prática, eu não entendi muita coisa da peça em si. Basicamente entendi o enredo (que, aliás, é bem simples). Deu para entender as motivações dos personagens, suas personalidades e tudo mais, mas faltou entender o trilhão de referências, muitas das piadas e alguns jogos de linguagem.

Se eu tivesse lido em português provavelmente teria gostado mais, mas ao mesmo tempo não teria enfrentado o desafio que é ler Shakespeare no original (e para alguém que possivelmente o estudará na faculdade, é útil ter enfrentado o desafio agora).

Enfim, é um livro legal e deu para dar uns pequenos sorrisos durante a leitura. Certamente é daqueles que crescem conforme a quantidade de vezes que se lê.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Marina, Carlos Ruiz Zafón

Marina

Marina é minha última leitura do mês para o Desafio. Minha tia me emprestou esse livro faz um tempão e eu só tive a oportunidade de lê-lo agora.

Já tinha lido A Sombra do Vento do mesmo autor há um tempo. Gostei bastante, mas achei superestimado. Continuo com essa opinião ao ler Marina.

O livro conta a história de Óscar Drai, um menino de quinze anos que mora num internato. Um dia, em um passeio por Barcelona, ele vê uma casarão com cara de abandonado. Curioso, ele entra e depois de um tempo fica amigo de Marina e do pai dela, moradores do casarão. Juntos, Óscar e Marina vão desvendar um incrível mistério.

No início, a história não me prendeu. Eram muitas descrições, cheias de metáforas… No geral, eu ainda não curto a linguagem poética do Zafón ao descrever as coisas. Depois de um tempo eu comecei a curtir mais o livro. Quando o mistério começa, não dá para parar de ler. O autor vai nos dando dicas sobre a resposta do mistério (María Shelley, sério?), mas mesmo assim eu continuei curiosa para saber como as coisas se resolveriam.

Não sei se isso é considerado spoiler, mas achei que o livro não teria tons sobrenaturais, pelo menos não tanto. Eu achei que ficou meio deslocado, ainda não engoli essa parte.

Diferente de um monte de gente, que não entendeu a união da parte mistério com a emocional, eu achei a união das duas bem feitas. Gostei bastante do livro ter mais de um “tom”.

Zafón, como em A Sombra do Vento, continua sabendo criar ótimos personagens e usar bem a cidade de Barcelona como cenário.

Recomendo o livro para quem gosta de mistérios diferentes, linguagem poética e um tom sombrio e até nostálgico.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Sobreviventes do Holandês Voador, Brian Jacques

Sobreviventes do Holandês Voador

O Holandês Voador é um barco condenado a navegar eternamente pelos mares. Desse barco só saíram vivos um menino e um cachorro, salvos por um anjo que lhes deu uma missão: ajudar os necessitados em troca de juventude eterna.

Nunca tinha ouvido falar desse livro antes, só o li porque a sócia da minha mãe me emprestou. Pela capa, título e sinopse, achei que o livro focasse mais na parte de navegação. Mas me enganei, a parte do barco ocupa apenas as cinquenta páginas iniciais. O resto do livro mostra duas “boas ações” do menino e do cachorro: ajudando um pastor e ajudando uma pequena cidade a não virar uma grande fábrica (e assim conhecendo novos amigos e buscando pistas para um tesouro).

No começo, não estava gostando muito do livro. Mas insisti na leitura e no meio passei a aproveitá-la mais, até que do meio para o fim voltei a gostar menos. A principal razão para eu não ter gostado do final é que Ban e Din, o garoto e o cachorro, são personagens chatos. Ban é aquele menino bom e esperto, de quem todos gostam… Sem graça. E Din é o cachorro inteligente e supostamente engraçado (eu não vi graça). Os outros personagens do bem são simpáticos pela descrição, mas todos agem da mesma forma, não são bem desenvolvidos. É muita bondade sem personalidade para um livro só.

Além disso, a parte da “caça ao tesouro” foi um pouco cansativa para mim. Eles encontram uma pista, demoram para decifrá-la (os personagens bonzinhos se revezam para cada um descobrir uma parte da dica) e para encontrar a próxima.

Concluindo, foi uma leitura divertida, mesmo com seus pequenos problemas. É um livro de entretenimento, e cumpre o seu papel sem se destacar.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Livro Selvagem, Juan Villoro

O Livro Selvagem

O Livro Selvagem conta a história de Juan, um garoto de treze anos. Seus pais estão passando por problemas e ele é obrigado a passar as férias na casa do tio Tito, dono de uma enorme biblioteca particular. Juan nunca gostou tanto assim de ler, mas aprende com Tito que é um leitor especial. Junto com o seu crescente amor por livros, nasce também o amor por Catalina, a bela garota da farmácia. Juntos, a garota, Juan e Tito vão buscar o Livro Selvagem na biblioteca, um livro especial que não quer ser encontrado pelas mãos erradas.

Esse livro é uma graça. Eu tive vontade de ler desde que foi lançado no Brasil, mas só li agora ao pegá-lo na biblioteca. Fazia um tempo que eu não lia infanto-juvenis simpáticos como esse. Os livros em que há um clima de fantasia mas não um mundo de fantasia propriamente criado sempre me encantaram (dá pra entender?).

A leitura foi rápida e divertida. Adorei o Juan como narrador e como personagem, e sua incrível família, principalmente o tio Tito e a irmã Carmen com seus bichinhos de pelúcia.

É do tipo de livro que não importa qual será a resposta do mistério  (porque, no caso, já era meio óbvia a resolução), e sim como ela vai ser narrada e o que acontece no percurso.

O livro também é ótimo para quem gosta de livros sobre livros. Tio Tito tem várias frases profundas sobre leitura e são usadas várias referências aos clássicos. Mas, para mim (e isso porque eu tenho uma visão bem particular sobre leitura), esse é um dos pontos negativos do livro. Ele endeusa demais a leitura e os livros. Não é como se a leitura fosse sempre o remédio para a alma. Sim, funciona às vezes, assim como filmes, música, comida podem funcionar, por exemplo. Isso é só um detalhezinho, e é algo que mais me incomoda por aí do que no livro em si. Até porque no final não fiquei tanto com essa impressão, e sim feliz com a leitura fofa e um pouco triste por sair da biblioteca de Tito.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Arlington Park, Rachel Cusk

Arlington Park
Ele entrelaçou os dedos nas tranças de cor sem graça. Nem sequer estava prestando atenção no que fazia, ela percebeu. (…) Simplesmente continuou a enrolar os cabelos nos dedos, distraído, esquecendo o que sentira apenas um minuto antes. Sentira que ela estava distante dele. Ela sabia: ele a vira ali no corredor e se lembrara de que ela se mantinha afastada dele. Era como quando Juliet de vez em quando ficava na frente da televisão com o controle remoto, trocando de canal para encontrar alguma coisa para as crianças assistirem, e um fragmento de noticiário aparecia na tela. Ela via uma guerra ou um terremoto, rostos de vítimas da dor ou de pessoas segurando armas, via regiões de poeira e montanhas distantes. Via isso, alguns instantes de turbulência do outro do lado mundo, e em seguida mudava de canal.
 (Arlington Park, p. 34)
 
Minha primeira leitura do Desafio Literário de 2013 foi Arlington Park. Como o tema de janeiro é livre mas eu não quero resenhar todos os livros que ler, criei um tema próprio: livros mais novos do que eu, ou seja, publicados de 1994 para cima.
 
Peguei esse livro na biblioteca porque já estava com vontade de lê-lo faz tempo (mas não tanta vontade a ponto de comprá-lo). O motivo é simples: adoro a capa e a contracapa do livro. A sinopse me agradou também: a vida de mulheres no subúrbio inglês de Arlington Park.
 
E a história é essa mesmo, trechos narrando a rotina de um grupo de mulheres, a maioria delas donas de casa e mães. Temos Juliet, professora de uma escola particular só para garotas e infeliz; Solly, que recebe estudantes estrangeiras em sua casa e é infeliz; Maisie, que se mudou de Londres para Arlington Park e se arrepende da mudança (e portanto, está infeliz)… Cada uma recebe no mínimo um “capítulo”, narrado em terceira pessoa mas com o seu ponto de vista.
 
Não é um livro muito excitante. Se você não estiver no clima depressivo, provavelmente irá achar um tédio. Mas eu acabei entrando no clima triste e chuvoso do livro, tendo simpatia por alguns personagens (Juliet) e raiva de outros (Christine). O meu grau de simpatia varia de acordo com o quanto a personagem tem noção de que ela está presa no mundo de donas de casa (quanto mais, melhor) e o quanto ela manifesta pensamentos classe-média-sofre (quanto mais, pior).
 
No fim, me pareceu que as lições do livro são “não seja uma dona de casa suburbana” e “os homens (maridos) tiram a sua vida de você mesma”. Tá, estou exagerando… Ou não. Por mais que eu concorde em certo grau com isso, ao mesmo tempo é um exagero… Ou não.
Como eu disse antes, é para ser lido num dia de desespero existencial (para ficar mais desesperada ainda). Se for lido em dias felizes, talvez você pense que é exagero da autora mostrar a vida suburbana só com tristeza e mal-estar. 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Retrospectiva: Desafio Literário 2012

Copiando minha querida irmã, decidi fazer uma retrospectiva do desafio do ano passado. Então vamos lá, a minha lista ficou assim:

Janeiro - Literatura gastronômica
O clube das chocólatras, Carole Matthews

Fevereiro - Nome próprio
Penelope, Marilyn Kaye
Sr. Ardiloso Cortês, Derek Landy
Lolita, Vladimir Nabokov

Março - Serial killer
O perfume, Patrick Süskind

Abril - Escritor oriental
Não me abandone jamais, Kazuo Ishiguro
Entre assassinatos, Aravind Adiga

Maio - Fatos históricos
Meninos sem pátria, Luiz Puntel
Extremely loud & incredibly close, Jonathan Safran Foer

Junho - Viagem no tempo
Before I fall, Lauren Oliver

Julho - Prêmio Jabuti
Leite derramado, Chico Buarque

Agosto - Terror
Still waters, Emma Carlson Berne

Setembro - Mitologia
Fábulas e lendas japonesas
A cabana, William P. Young

Outubro - Graphic Novel
Fagin, o judeu, Will Eisner
Retalhos, Craig Thompson                                                     Daytripper, Fábio Moon e Gabriel Bá
Frango com ameixas, Marjane Satrapi

Novembro - Escritor africano
AvóDezanove e o segredo do soviético, Ondjaki

Dezembro - Poesia
The day before, Lisa Schroeder
Sentimento do mundo, Carlos Drummond de Andrade

Uma lista pequena, que contém exatamente metade dos livros que li ano passado. Por mais que eu não seja tão fã de ler “sob pressão”, as leituras no geral foram agradáveis e, mais importante, eu não tive que correr atrás de nenhum livro (a minha irmã fez isso por mim, mas foram só dois livros!). O resto eu tinha em casa ou baixado…

Melhores livros:
Retalhos - "Se teve um livro que eu não queria que terminasse, é esse."
Frango com ameixas - "E o jeito que a autora narra, com a mistura de humor e melancolia temperada por seus simples e estilosos desenhos, não deixa a história ser só uma história."
AvóDezanove e o segredo do soviético – "(…) o livro me envolveu e deu uma saudades da infância…"

Piores livros (não foram leituras péssimas, mas foram meio sem graça):
A cabana - "(...) a escrita é simples, a história não se desenvolve"
Still waters -  "O problema é que eu realmente não consegui engolir a premissa."
O perfume - "(...) o livro não me cativou. Admito que não estava no humor para o livro, cheio de descrições e com poucos diálogos. E quando você fica bastante tempo sem ler, acaba perdendo o ânimo…"

Boas surpresas:
Before I fall - "É desses que você não quer largar e mostra que YA não é só futilidade."
The day before - "O fato do livro ser em versos me ajudou a entrar na leitura rapiddamente."
E Frango com ameixas e AvóDezanove, pois eu não estava esperando gostar tanto quanto eu gostei.

Maior decepção:
Extremely loud & incredibly close - "A história do Oskar em si, não sei, achei mais chatinha." (eu gostei muito desse livro, mas não entrou na lista de favoritos como achei que entraria)

O que foi prejudicado por fatores externos e merecia uma leitura melhor:
O perfume, já citado anteriormente.

Mês que mais me agradou no geral:
Outubro - duas leituras apaixonantes, uma muita boa e uma boa.

Mês que amaldiçoei por não poder ler mais do que li:
Quase todos... Comparando com a lista de opções, podia ter lido muito mais (mas aí que eu realmente leria sob pressão).

No final, acabei decidindo participar do Desafio de 2013. Bom desafio a todos!